Foi assim, por exemplo, com a computaτπo grßfica. O laborat≤rio Θ responsßvel por grandes avanτos nessa ßrea, mas hß uns trΩs anos, quando o mercado mundial demonstrou ter profissionais altamente capazes para continuar a desenvolver por conta pr≤pria essa arte, o Media Lab tirou o time de campo. Antes, fizera o mesmo com o conceito de "windows", a holografia aplicada, o desenvolvimento da realidade virtual, os CD-Roms regravßveis, os sistemas de reconhecimento de voz, o desenvolvimento de recursos novos para a Internet, etc.
Sua visita Θ virtual, mas privilegiada. Serß uma imaginßria jornada de trΩs dias, razoßvel para a carga de informaτ⌡es novas a receber. E ocorre justamente αs vΘsperas das comemoraτ⌡es do dΘcimo aniversßrio do Media Lab. A festa principal serß no pr≤ximo dia 10, terτa-feira, quando serπo anunciados novos projetos de pesquisa e irß ao ar o primeiro grande "happening"do ciberespaτo: uma conexπo de 24 horas "online" com milhares de pessoas de todo o mundo, editando junto com os cientistas do Media Lab e um grupo de voluntßrios um "site"comum dentro da Internet (Veja mais informações sobre o assunto).
Donos e executivos de grandes grupos de comunicaτπo, publicidade, informßtica e telecomunicaτ⌡es do mundo inteiro estarπo presentes. Boa parte deles continuarß por ali nos dias 11 e 12, quando ocorre mais uma reuniπo dos patrocinadores de um dos programas do Media Lab, o Nif-News in the Future ("Notφcias no Futuro"). Estπo entre eles, o Grupo Estado, o jornal argentino Clarin, os grandes grupos norte-aemricanos Hearst, Gannet, Knight-Ridder, NY Times/Boston Globe, Times-Mirror, ABC Radio Networks (comprada pela Disney), e mais empresas como McCann-Erickson, Lotus e IBM. Rodrigo Mesquita, diretor da AgΩncia Estado, representa o Grupo Estado no conselho do NiF.
De forma didßtica, ele demonstra no livro que boa parte do que era ßtomo estß virando bits. "A movimentaτπo regular de m·sica gravada em pedaτos de plßstico, assim como o lento manuseio humano da maior parte da informaτπo, sob a forma de livros, revistas, jornais e videocassetes, estß em via de se transformar na transferΩncia instantΓnea e barata de dados eletr⌠nicos movendo-se α velocidade da luz", diz um dos trechos. Em 1967, ap≤s seu "master degree" no MIT, ele criou o "Architecture Machine Group", para pesquisar o uso de computadores na arquitetura. Em 1978, antes de outros estudiosos na matΘria, esse grupo teve a visπo da convergΩncia dos meios de comunicaτπo e dos computadores (e tambΘm das telecomunicaτ⌡es, como temos vßrios exemplos concretos hoje). Era justamente a visπo da vida digital que viria por aφ. Ou jß estß aφ.
û Com um diagrama que mostra essa quebra de fronteiras, Negroponte e Jerome Wiesner, ex-presidente do MIT, lideraram um movimento que levou α criaτπo do Media Lab em 1985. Naquele Θpoca, o laborat≤rio era sustentado s≤ por verbas do governo, mas hoje ele Θ inteiramente patrocinado por cerca de 70 empresas do mundo todo û conta Valerie Minard, enquanto encaminha vocΩ para conhecer o audit≤rio no subsolo do prΘdio.
O tΘrreo corresponde ao primeiro andar. No segundo andar, fica o escrit≤rio de
Negroponte, mas infelizmente ele nπo estß. Mais uma viagem. No terceiro e no quarto
andares, laborat≤rios e escrit≤rios de gente igualmente famosa como Marvin Minsky,
tido como um dos "pais" da inteligΩncia artificial, e Seymour Papert, autor de influentes obras sobre o uso de computadores na educaτπo.
E tambΘm de Walter Bender (na foto ao lado), aquele
sujeito que acaba de sair do elevador, todo suado, com sua bicicleta de competiτπo. Nπo
se assuste: o ambiente Θ mesmo assim descontraφdo.
û Vamos "montar"seu jornal personalizado ?
Trata-se de um mergulho no que existe de mais nobre hoje entre os produtos do laborat≤rio: o "Fishwrap", que traduzido para o portuguΩs seria algo como "papel de embrulhar peixe". O nome foi criado pelos estudantes, fazendo um trocadilho com o jargπo jornalφstico que diz que "o jornal de hoje serve para embrulhar o peixe de amanhπ".
Walter o leva para o Computer Garden, um imenso salπo no terceiro andar, repleto de computadores pessoais de ·ltima geraτπo, monitores enormes, ornamentado por vasos de plantas e rodeado de salas de professores apenas ligeiramente organizadas.
û VocΩ mora em Sπo Paulo, certo ? û pergunta Walter, sentando diante de um dos computadores, ligado na Internet. Ele vai digitando rapidamente alguns c≤digos numa pßgina do "Fishwrap" que aparece na tela da mßquina, comando necessßrio para habilitar mais uma ediτπo personalizada desse jornal eletr⌠nico. Em seguida, digita seu nome, Sπo Paulo e Brasil.
û Nπo queremos apenas desenvolver a mφdia personalizada, mas tambΘm fazer com que a mφdia ajude o indivφduo a se situar no ambiente em que vive û esclarece o cientista, deixando-lhe a tarefa de programar pessoalmente a terceira seτπo de seu jornal.
Mouse nas mπos, vocΩ elege entπo, numa enorme lista de bancos de dados, quais sπo os assuntos em geral que gosta de acompanhar mais de perto. Por exemplo: polφtica internacional, Microsoft, Aids, futebol, m·sica espanhola, as cotaτ⌡es da bolsa de T≤quio, etc. e tal. A escolha Θ feita numa tela que apresenta mais de uma centena de opτ⌡es de assuntos/ßreas, onde sπo agrupadas notφcias quentes fornecidas graciosamente ao MIT, para exclusivo uso nesse trabalho, por agΩncias noticiosas globais e grandes jornais norte-americanos.
As notφcias sπo divididas por seτ⌡es e contam com o recurso de hipertexto, facilitando sua consulta. Hß fotos e outras ilustraτ⌡es. AlΘm das notφcias de Sπo Paulo, o jornal mostra tambΘm as condiτ⌡es de tempo na cidade, comparadas com o tempo hoje em Cambridge, de uma forma bem humorada, atravΘs de tiras de quadrinhos.
û A comunicaτπo de massa necessariamente visa à maioria, ou às grandes minorias. ╔ um canal de uma s≤ via, gerado de poucos para muitos. Mas, se eu estiver interessado num determinado assunto, deverei folhear o jornal, pßgina a pßgina, atΘ encontrar as informaτ⌡es que desejo, se por acaso elas estiverem lß. Jß o rßdio e a TV disseminam a mesma notφcia para todos, na mesma sequΩncia, tempo e Ωnfase. Com jornais personalizados, esses problemas sπo minimizados, se eu tiver acoplado ao sistema bons bancos de dados. Eu mesmo programo o que desejo ler e, quando quiser mudar isso, tenho toda condiτπo de reprogramar o sistema com outros assuntos.
O "Fishwrap" Θ um dos 30 projetos em desenvolvimento dentro do NiF, de um
total de 100 em todo o Media Lab.O programa NiF foi criado em fevereiro de 1993,
com o objetivo de pesquisar tecnologias que vπo afetar as formas de coleta e
disseminaτπo de notφcias. Seu diretor Θ Jerome Rubin (foto ao lado), o homem que se tornou famoso
por criar Lexis e Nexis, dois bancos de dados eletr⌠nicos que se tornaram bastante
populares nos Estados Unidos, destinados a pesquisas jurφdicas e de arquivos de
notφcias.
Na parte da tarde desse primeiro dia, vocΩ passarß algumas boas horas explorando todas as versatilidades do "Fishwrap", mas agora Θ hora do almoτo. Na verdade, um lanche frugal servido na sala dos professores. ╔ tambΘm um momento em que eles aproveitam para trocar idΘias ou conversar com os visitantes. Nesse dia, o pr≤prio Jerome Rubin junta-se ao grupo. Rubin lembra que, apesar de estarmos ingressando na chamada Sociedade da Informaτπo, hß um declφnio no interesse das pessoas por notφcias:
û No inφcio da dΘcada, um sΘrio e amplo estudo feito pelo Times Mirror, "A Era da Indiferenτa", descobriu que os jovens americanos de hoje, entre 18 e 30 anos, sabem e se importam menos com notφcias e assuntos p·blicos do que qualquer outra geraτπo de americanos nos ·ltimos 50 anos.
û O declφnio parece ser contφnuo e existem evidΩncias de que essas tendΩncias tambΘm estπo ocorrendo em outros paφses industrializados. Apenas notφcias diretamente relevantes aos seus interesses pessoais û por exemplo, o aborto û fazem os jovens mobilizarem-se para as notφcias. Nπo serß demais esperar que dentre os objetivos do programa NiF esteja a renovaτπo de interesses em notφcias, graτas α individualizaτπo, riqueza da informaτπo, belos "layouts" e "designs", atemporalidade e conveniΩncia û declara ele, otimista.
û Embora o jornal do futuro nπo precise ser necessariamente apresentado em papel, o papel tem muitas virtudes como meio informativo. Dentre outras coisas Θ flexφvel e leve. Daφ porque investimos na tentativa de descoberta de um "display "com a aparΩncia e o tato do papel û provavelmente o pr≤prio papel com uma impressπo reversφvel ou que desaparece.. Ele possibilitaria que cada indivφduo imprima, em sua casa ou escrit≤rio, a partir de uma mßquina especφfica, o jornal de notφcias gerais combinadas com temas de escolha pessoal.
Lido, o jornal retornaria ao sistema para ser reciclado e reaproveitado para a pr≤xima ediτπo, que nπo mais sairß das gigantescas impressoras a cada 24 horas, mas sim no momento em que o usußrio desejar, em sua pr≤pria "grßfica domΘstica". Com sistemas desse tipo, a ind·stria jornalφstica continuarß fornecendo um processo habilidoso de seleτπo editorial, com o valor agregado das informaτ⌡es de livre seleτπo de cada indivφduo, conforme seu sentido de participaτπo em uma determinada comunidade.
û Se a ind·stria jornalφstica souber jogar direito, o maior resultado ocorrerß na proliferaτπo dos canais de comunicaτπo digital. Seja pela compactaτπo da TV digital, 500 ou 5 zilh⌡es de canais nos sistemas a cabo, distribuiτπo via satΘlite ou avanτos na telefonia, a disseminaτπo por ondas se transformarß numa commodity. Um ·nico canal de TV digital poderß enviar o texto completo de um tφpico jornal dißrio americano em mais ou menos um quarto de segundo; uma nova tecnologia de disseminaτπo (a ASDL- 3) permitirß a transmissπo de mais de seis megabits por segundo via linha telef⌠nica comum û o suficiente para enviar o texto de um dißrio em menos de um segundo. As tecnologias de transmissπo û mais inteligentes e rßpidas û estarπo no caminho dos jornais.
O diretor do NiF lembra que, em 1967, a Academia Americana de Artes e CiΩncias publicou um relat≤rio sobre como seria o mundo da informaτπo e do entretenimento no ano 2000. Um dos membros da comissπo chegou perto, mas nπo o suficiente, na percepτπo dessas mudanτas determinantes que as teletecnologias promoveriam. Essa pessoa foi John R. Pierce, que na Θpoca era o chefe da Divisπo de Pesquisa e Comunicaτπo do Bell Lab e que, incidentalmente, foi a pessoa que cunhou o termo "transistor". Ele disse: "seria interessante observar a evoluτπo da CATV, se ela ocorrer, serß um auxφlio fundamental num outro sonho de longo prazo û o envio de jornais para os leitores por meios elΘtricos". No Media Lab, talvez o ano 2000 chegue antes.